Thursday, September 22, 2016

Julgar um livro pela capa




Julgar ou não um livro pela sua capa ( Ou vinho pelo seu rótulo).
Quantas vezes já ouvimos esse jargão “Nunca julgue um livro pela sua capa” ?
Nossas mães, pais, avós, professores, etc., sempre nos falavam isso, mesmo quando a última coisa que se referiam era de fato um livro.
Essa frase pode ser incorporada em várias instâncias de nossas vidas, desde quando falamos de alguma pessoa ou algo muito mais importante que apenas a capa de um livro, no sentido literal da frase.


O que isso tem a ver com o mundo enológico? Simples,  quem nunca comprou um vinho pq achou o rótulo irado, que atire a primeira pedra.
Algumas fontes dizem que essa arte em rótulos em garrafas de vinho vem da Grécia Antiga, mas na verdade os primeiros detalhes em rótulos foram encontrados no Egito antigo, incluindo informação quanto a safra, região, etc. Informações essas que são obrigatórias até hj por lei e que na verdade só está ficando cada vez mais específica.
Deixarei pra falar das informações técnicas de rótulos em outro post. É uma parada meio chata, mas precisa falar pq tem sim coisas interessantes e dá pra filtrar várias coisas, principalmente sem conhecer maiores detalhes do produtor.


Bom, voltemos à “Capa do Livro”.
Eu lembro que, quando eu era pequeno, eu adorava ir à Bienal do Livro em SP. Quem me conhece bem sabe que nunca fui muito de ler, mas eu adorava ir na Bienal pra ver os livros (ou capas). Sim, comprei alguns por causa da capa. Fazer o que? Eu sou muito visual. Adoro desenhar, gostaria de ter aprendido a pintar quadros. Sei que é só levantar a bunda, arrumar o material e meter tinta. Quem sabe um dia...

Anyways, voltando à arte em rótulos. Apesar de não ser sempre, acredito sim que vc consiga identificar algumas coisas sobre o produtor (fora as informações técnicas escritas nele), mesmo que muito superficialmente, olhando pro rótulo.
Não custa nada lembrar que, claro, isso não é uma regra. É apenas uma opinião de quem já viu algumas várias centenas de rótulos.
Dá sim pra você formar um certo pré-conceito de um vinho/produtor dependendo do rótulo. Se o papel usado é de boa qualidade, a impressão/tinta são de boa qualidade, até a fonte usada. Mano, se o cara usou uma font estilo uma  COMIC SANSinha sem vergonha, usando um papel meio que plastificado, daqueles que grudam duma maneira que não tem acetona que tire, muito provavelmente o vinho não será grande coisa. O cara precisa ter um pouco de carinho na apresentação do seu produto, no meu ponto de vista.
Se o cara não tem verba nem pra escolher um material melhor, ou investir num design legal pro rótulo, ele dificilmente terá verba pra produzir um vinho de alta qualidade. Note que o DIFICILMENTE  (acima) está grifado e em negrito, porque isso não é uma regra talhada em pedra.
Claro, pelamordedeus, não vá agora achar que se o rótulo é feio que mto provavelmente o vinho é ruim. Não to falando isso, mas fique sim com uma pulga atrás da orelha.
Claro, como grande maioria das coisas no mundo do vinho, a resposta de muitas perguntas é “Depende” ou “não necessariamente”.
P: “Então todo vinho com rótulo feio é ruim?”
R: “Não necessariamente”

P:”Então todo vinho com rótulo de alta qualidade será bom?”
R: “Não necessariamente”

Por exemplo, se vc for ver os vinhos do velho mundo (França, Itália, Espanha, Portugal, etc..) os rótulos são super tradicionais, às vezes de centenas de anos atrás, ou no caso de alguns produtores em particular, os caras tem um produto tão foda que ele realmente não precisa investir em design de rótulo.
Nele tem o nome da vinícola, provavelmente um desenhinho sem vergonha do Chateau (Finca, Bodega, o que seja), a safra e punto. Rótulo colado pela avó do produtor, garrafa por garrafa. Isso tudo tb “pode”, não to falando que não pode. Muito pelo contrário. Pode e deve. Mas os caras tem o produto pra segurar a barra.

Por outro lado, e isso acontece também muito no Novo Mundo, os caras são tão oitavo dan em Marketing, que às vezes o vinho é super fraquinho mas o rótulo é tão irado, que vc nem acaba ligando se o vinho é bosta.

Existe um estudo que diz que em torno de 27% dos vinhos comprados, o consumidor não faz idéia do que tem dentro da garrafa. Compra feita por indicação de amigo, garçom, ou algum formador de opinião que indicou. E cada vez mais, esse estudo também diz que compra-se vinhos dependendo da arte dos rótulos.

Vou pegar alguns exemplos.  Alguns dos “rótulos” mais irados que já vi, onde os vinhos são mto bons, ou onde o rótulo é bem meia-boca, porém o vinho ótimo, outro com rótulo lindo e o vinho meia-boca

1 – Um produtor californiano que manda mto nos rótulos, um dos meus preferidos e os vinhos são TOP, é o Orin Swift, de Sta Helena, CA


- Mercury Head – Cab. Sauvignon ANIMAL!!! Pensa num C.S. Napa, soco na cara! Esse é um. O “rótulo” é um dime (moeda de 10 centavos americanos) feito de mercúrio, uma edição limitada produzida de 1916 a 1945. O enólogo responsável por esse vinho colecionava essas moedas quando criança e depois de adulto, recebeu uma dessas moedas no troco, oque acabou dando a idéia pra ser a “capa do livro” de sua autoria.

2 – Turley Wines – Um dos primeiros, se não o primeiro Zinfandel que me foi apresentado. Californiano, um dos melhores vinhos que já tomei. Saquem só o rótulo. Simples, sem mto fru-fru. Turley escrito em um micro alto-relevo, dourado

Pátcha vinho!!! Complexidade absurda. Se você procurar a palavra Zinfandel no dicionário, deveria ter a foto desse vinho como sendo a descrição da palavra. Fruta mto fresca, “espinha dorçal” super presente, ou seja, é daqueles que vc bebe e fica tentando entender oque acabou de acontecer.
Turley tem vinhedos em vários lugares na california. Eles produzem na sua grande maioria Zinfandel, mas Turley tem vinhedos em vários lugares na california. Eles produzem na sua grande maioria Zinfandel, mas teve sua primeira safra de Cabernet Sauvignon há uns 3 anos atrás. Muito bom também, mas os Zins são fenômenos.

3 – Charles Shaw ou mais conhecido como Two Buck Chuck

Vinho da rede de supermercados Trader Joe’s.
Tá, legal legal, mas se for para pra ver a QUALIDADE, é completamente discutivel (Sim, vou tomar esporro da Dani por isso). Mano, por 2.99, sinceramente, não tem como ser de estupenda qualidade. Claro, nós compramos as vezes tb, só pra ter aquele chardonnayzinho madeira, engana trouxa, pra dar uma refrescada na serpentina. Só  não ache que seja uma jóia porque não é. 


4 – E um exemplo do velho mundo, de um dos vinhos mais caros do mundo. Chateau Margaux.

Simples, pá e bola. Sem mto lero-lero. Também, com um nome desse, não precisava nem ter rótulo 
Bom,  agora uns exemplos de rótulos de produtos do clube de vinho NAKED WINES, onde assinamos e recebemos remessas de 2-3 meses a 2-3 meses. Vinhos de na média 15 doleta. Claro tem uns vinhos ótimos que repetimos em quase todos os nossos pedidos, mas tem tb alguns que não são GRANDES coisas. Não são péssimos (não sei se demos sorte), mas tem uns um pouco menos elaborados, porém com rótulos irados. Tanto que temos um lustre em casa onde tem lugar pra colocar garrafas de vinho vazias, pra decorar e grande parte das garrafas que temos são da Naked Wines. (Veja abaixo alguns exemplos). A do meio não é da Naked Wines, mas acho esse rótulo irado.

          


Como já disse acima, claro que já comprei um vinho porque achei o rótulo lindo e fui ver, o vinho era de qualidade MTOOO discutivel. Parabéns, produtor, me enganou. Mas só por uma vez. Guardei oque de fato prestava, que era a garrafa, e nunca mais....moving on.

Resumindo, as vezes eu julgo sim o “livro” pela capa. Não devo? Oh well!!! 






Tuesday, September 13, 2016

Piacere di conoscerti!

É difícil falar de vinhos italianos sem falar de clássicos - e são tantos! 

A Italia conseguiu aprimorar a cultura do vinho e produzir tanta coisa boa que eu acho particularmente difícil experimentar coisas novas, ja sabendo das tantas delicias disponíveis por ai…

Mas, superando o obvio, devo dizer que o meu primeiro amor italiano não foi um Chianti ou um Nebbiolo, nem mesmo um Prosecco: foi um Nero D’Avola.

E em homenagem a esse amor, resolvi escrever esse post e, quem sabe, inspirar novas descobertas… GO EXPLORE!

Nero D’Avola: diretamente da Sicilia para o mundo! Super versátil, essa uva é um fenômeno seja em cortes 100% ou em blends. Vamos lembrar que a estrela da Sicilia por anos e anos brilhou com o vinho Marsala, que encontra seu lugar ao sol entre vinhos Madeira e Sherrys. O solo vulcânico siciliano, bem seco, e o clima quente, produz uma fruta super vigorosa, e os vinhos Nero D’Avola vem a mesa com teor alcoólico mais alto do que o “normal”, com notas bem acentuadas de frutas vermelhas. Apesar de ser um vinho bem encorpado, ele vai bem com pratos mediterrâneos vegetarianos com base de beringela, abobrinha e pimentão. Na verdade, minha sugestão é prepare esses 3 grelhados, coloque numa fatia torrada de pão italiano, azeite, sal e voila! Crostini de vegetais :)


A vinícola Planeta é maravilhosa, super recomendo! O Plumbago é 100% Nero D’Avola e inesquecível!


Verdicchio: dai que eu fui morar na região de Marche. Nunca ouviu falar né? Pois é. Fui parar la exatamente por causa disso: acho que não tem lugar melhor pra se aprender uma língua do que lugares remotos, longe dos contatos turísticos do resto do mundo… E la, do lado da minha escola-dormitório, tinha uma vinícola que produzia Verdicchio… E considerando a proximidade de Marche com o mar Adriático, tínhamos muitos pratos a base de peixes e frutos do mar, que harmonizam perfeitamente com Verdicchio que tem um perfume floral maravilhoso, mas podem ser muito delicados para quem esta acostumado com uma explosão de sabores. Então para evitar desapontamentos, pensem num Vinho Verde português… É mais ou menos isso.

Verdicchio di Matelica e...


Stocco all’anconetana, prato típico da regia de Marche, que gente, nao a toa vem a ser uma versão de Bacalhau a Gomes de Sa. Lembra do que falei do vinho verde? Pois é…

Rosso Piceno: ainda na região de Marche, que tem muitas colinas (quase tudo que vem de la se chama “Colli” alguma coisa), encontramos Rosso Conero e Rosso Piceno, que tem base de Montepulciano, as vezes Sangiovese, e atualmente, ate um pouco de Trebbiano e Passerina. Na minha opiniao, 6 anos é a idade certa pra esses vinhos que são tintos delicados, com taninos médios, e com um frescor típico de vinhos “a beira mar”… Um italiano que poderia ser da California…

O Pongelli custa aqui uns $20USD e é fenomenal!!!



Franciacorta: e foi nos Estados Unidos que eu conheci o Franciacorta! Trata-se de um espumante de sabor super clássico, da Lombardia, produzido em método tradicional, que exige respeito pela qualidade incrível e pela fermentação em garrafa, bem atípica na Italia. Aqui nos EUA, encontramos alguns Franciacorta com preços mais altos que Champagne… Mas acredito que valha o investimento. E pode ser rose também (pensa no verão no Brasil, sol e praia… perfeito!)