Wednesday, August 31, 2011

Irmãos de mãe solteira



No começo de Julho fomos jantar na casa de uma familia de amigos que moram aqui perto da gente, pois eles haviam nos convidado para um jantar árabe na casa deles.

Teve de tudo, Hummus, babaganuche, Kibe, Esfiha...como falamos aqui, "the whole 9 yards"...

O anfitrião, brasileiro, muito amigo nosso, também é tomador de vinho. Só que no caso dele, só italiano...rs. Você abre a adega dele, SÓ italiano! Impressionante. Se tiver algum americano lá, na certa fomos nós que demos...

Pela comida árabe ser BEM temperada, com bastante ervas, especiarias, pensei em levar um vinho que tb tenha características parecidas, e ver qual é.
Pensei na hora num Zinfandel que tinhamos, especificamente do produtor Joel Gott, da Califórnia.

Não lembro de ter falado sobre a cepa Zinfandel no blog. Essa foi outra "pérola" que encontrei aqui quando comecei a trabalhar com vinho nos EUA.
Zinfandel é uma das "Margueritas" dos americanos (Pra quem esse post é o primeiro a ler no Blog, veja nos Blogs anteriores sobre as pizzas margueritas).

Ela, na verdade, é um clone da uva italiana PRIMITIVO, que veio pros EUA em torno de 1850, trazida pra California quando Viveiristas como Frederick Mackondray foram pra lá atrás de ouro.

Aí tá, Frederick resolveu ir pra Califórnia. Por ser botânico e sabendo que ia ficar na região por um tempo, resolveu levar uma videirinha de Primitivo.

Resultado: hoje Zinfandel toma 11% das plantações de viti-viniferas na Califórnia. Fora os EUA (e Itália com a Primitivo), não tem mais nenhum lugar produzindo Zinfandel no mundo. Se tiver, é em BEEEEEM menor escala, sendo insignificante comparado ao Zin daqui.

Pra quem nunca tomou um Zinfandel, é um vinhozinho bem interessante. Ele é bastante escuro, tânico ("seca" a boca), e tem uns toques de pimenta, especiarias,anis, MTO legal. Logo no primeiro gole vc já sente a pimenta.
Dá pra harmonizá-lo com mais ou menos tudo que você faria se tivesse tomando um Cabernet Sauvignon, pelos taninos e estrutura do vinho, mas ele segura MUITO a onda com comidas apimentadas e temperadas! Talvez por isso que americano ame o Zinfandel. O povo pra gostar de pimenta assim lá longe!!!!!

Por isso a escolha em levar um Zin pro jantar árabe. E... ficou bem acompanhado!
Agora, o mais legal é que, ao chegar, vi que esse nosso amigo já tinha uma garrafa de Primitivo.
Não deu outra:  abrimos as duas garrafas e fiquei impressionado com a semelhança.
Achei muito legal por poder comparar e ver que eles são muito parecidos, mas sabe aquela caracteristica tipica dos vinhos italianos, alto teor alcóolico,  gostinho de terra? Bem presente, quando comparado com a versão anglo-saxônica, que tem bem mais fruta, mas continua com as especiarias, uma pimentinha....

A cepa Zinfandel é uma uva que cresce em cachos grandes, e as uvas ficando bem juntas umas as outras. Ela amadurece rápido e tem um nivel alto de açúcar. Ela tb é bem conhecida por fazer vinhos alcoólicos, crecendo bem em clima ameno, nem mto frio, mas tb nao mto quente. Pelas uvas crescerem bastante juntas uma das outras, muito calor pode acabar proliferando Botrytis - um fungo que não é bem vindo pra esse estilo de vinho (diferente do vinho SAUTÉRNES, que é produzido com uvas "Botrytizadas").

Tentaram fazer o Zinfandel menos alcoólico, mas é como nego querer produzir Coca-Cola transparente. Não virou. Não adianta querer mudar a caracteristica da coisa, ainda mais num Vinho.
Quem não gosta de vinho muito alcoólicos, que não tome, ué....

Ele tb não é vinho de guarda. Ele não ficará muito melhor com envelhecimento. Os de melhor qualidade até que dá pra guardar uns 5, 7 anos, mas não sei se vale a pena a espera. Fizemos uma comparação enquanto eu trabalhava na Vines, tomando um Pine Ridge de 2003, com um de 2009. Quase não vi diferença....

Eu lembro que esse Zin que tomamos, foi o mesmo que eu tomei pela primeira vez em 2009, do Joel Gott. Eu amei, e dele comecei a provar outros. Agora, o melhor que tomei até hoje é do produtor Turley. Esse Turley tem vááários vinhedos em lugares diferentes, todos com Zinfandel. Vinho delicioso e não muito barato (U$45, U$50), dependendo do vinhedo de onde vem. O melhor que tomei deles é do vinhedo DUSI.
O legal desse Turley, é que até pouco tempo atrás, eles só vendiam pra quem eles conheciam. Donos de restaurantes, amigos da vinicola, colecionadores ou seja, pessoas que eles tinham certeza que não iam banalizar os produtos dele.
Mas o Joel Gott é uma opção mais em conta (U$20), e é um belo vinho.
O Primitivo que tomamos foi Masseria Pietrosa. Não conhecia...vinho mto bom, ótima estrutura, BEM italianão, bem escuro, bem tânico....valor relativamente igual ao Joel Gott, em torno de U$18,U$20....

Como disse acima, Zinfandel é uma das, se não A uva caracteristica da viticultura americana. Ela é MTO vendida aqui, e é o motor do carro-chefe daqui. Mas na verdade, o Zin tinto ta sendo mais consumido nos últimos 10 anos pra cá. O que realmente é consumido é o famoso White Zinfandel.
Se vc entrar em qualquer 7-11 da vida, de cara vc já se depara com um stand com vinhos pra venda a 5,6 doláres, e na sua grande maioria do produtor Sutter Home. O "Seu Sutter Home", numa época onde a venda de Chardonnay no país era incrivel, e a oferta não tava conseguindo acompanhar a demanda, no começo dos anos 70,  meio que sem querer inventou o White Zin.
Feito da uva Zinfandel tinta, pra conseguir uma concentração de taninos, eles usaram um método chamado de Saignée, onde se retira parte do suco sendo fermentado, assim o vinho fica menos "aguado", com uma estrutura melhor.
Esse suco então rosa, foi fermentado separado, sendo então inventado o Dignissimo, porém sinônimo de vinho barato, White Zinfandel.
Pra quem nunca tomou um White Zin, ele é BEM facinho de tomar, meio docinho, ótimo pra não bebedores de vinho....só que esse "docinho", mais uma vez, foi por acaso.
Certa vez, lá pelos anos 74, 75, num belo dia, no meio da fermentação desse suco extraído pra fazer o White Zin, ocorreu (não sei como se chama em Português) uma Stuck Fermentation, onde as leveduras morrem antes de comer todo o açucar do suco, deixando então de produzir o alcóol, deixando o vinho docinho....

Pronto, essa descoberta foi que nem achar ouro na Serra Pelada....E por ser uma uva que dá muito fácil aqui e pelo estilo do vinho, a fruta não precisa ser de grande qualidade pra virar um vinho que venda, e isso acaba sendo viável vendê-lo BEM barato.
Por exemplo, ontem fomos na ABC* comprar uns vinhos diversos e por minha sogra amar White Zin, compramos 2 garrafas. Preço? U$9.98/duas garrafas, da Beringer.
Eu particularmente não sou fã desse vinho, mas dá pra entender pq vende tanto. É muito fácil de tomar, e é barato.

Por outro lado o Zin tinto foi outra ótima surpresa dos produtos americanos. Virei fã!
Com certeza irei escrever mais sobre o Zinfandel num futuro breve! E conforme formos tomando outros, vou falando aqui.

Cheers

*ABC é um mercadão só de bebidas alcoólicas, supermarket style.











2 comments:

  1. Gostei de ver como cada vez e cada vez mais... tá ficando entendido em vinho. Este com o toque apimentado deve ser muito saboroso... e com uma mesa árabe, que adoro, muito do babaganuche.
    Paulo

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  2. Este seu blog precisa ser mais lido... vou passaar uslinq pros meus amigos somêliélicos, já que eu, sou zero to the left. Beijo!!

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